Considerado uma das mais importantes personalidades da nossa cultura, Arthur Moreira Lima projetou-se internacionalmente no Concurso Chopin de Varsóvia. Laureou-se também nos Concursos de Leeds (Inglaterra) e Tchaikovsky (Moscou). Desde então, Moreira Lima tem feito turnês em todos os continentes, lotando as principais salas de concertos do mundo.

Entre as orquestras e os regentes famosos com quem já se apresentou, estão as Filarmônicas de Leningrado, Moscou, Varsóvia, Sinfônicas de Berlim, Viena, Praga, BBC de Londres, National da França, sob a direção de Kurt Sanderling, KiriIl Kondrashin, Mariss Jansons, Serge Baudo, Jesus Lopez-Cobos, Sir Charles Groves, Vladimir Fedosseyev, Rudolf Barshai...

A crítica mundial o considera extraordinário intérprete do grande repertório romântico e não tem poupado elogios à beleza da sua sonoridade e ao seu grande virtuosismo. A revista LA SUISSE chamou Moreira Lima "O Pelé do Piano", a crítica americana elegeu sua gravação dos Noturnos de Chopin "o mais importante registro pianístico do ano", e o famoso crítico londrino Dominic Gill do FINANCIAL TIMES escreveu "Moreira Lima sabe tudo sobre o piano romântico, fazendo seu instrumento falar".

Nascido no Rio de Janeiro, Arthur Moreira Lima começou a estudar piano aos seis anos, e já aos nove tocava um concerto de Mozart com a Orquestra Sinfônica Brasileira. Seus mestres foram Lúcia Branco (Rio de Janeiro), Marguerite Long (Paris) e Rudolf Kehrer (Conservatório Tchaikovsky de Moscou).

Em seu trabalho de resgate e difusão das raízes culturais brasileiras, Arthur Moreira Lima foi solista da primeira audição do Concerto n. 1 de Villa-Lobos no Japão, Rússia, Áustria e Alemanha. Foi também o pianista que fez reviver a obra de Ernesto Nazareth. Por seu trabalho discográfico no Brasil, recebeu por duas vezes consecutivas o Prêmio Sharp (1989 e 1990). Nos Estados Unidos, seu CD da obra de Ernesto Nazareth foi incluído na lista das melhores gravações do ano da Stereo Review Magazine. Um CD de Chopin Favourites lançado no Japão pela Nippon Columbia continua como um dos best-sellers da companhia.

Lançado internacionalmente pelo selo Olympia em 1999, seu CD com músicas de Astor Piazzolla foi considerado na França como "Disco do Mês" pela revista Répertoire e pela revista Tipptopp da Rádio da Suiça alemã. Gramophone, na Inglaterra, escreveu que Moreira Lima "captou magicamente a fantasia e grandiosidade da música", e a BBC Music Magazine: "Moreira Lima é um marcante e eloquente campeão de Piazzolla. Este CD certamente irá converter os céticos".

A revista CARAS lançou em 98/99 em todo o Brasil uma coletânea de 41 CDs onde Moreira Lima interpreta de Bach a Bartok, incluindo compositores brasileiros como Villa-Lobos, Radamés Gnattali e Nazareth. Ao total, mais de 100 compositores europeus, americanos e brasileiros, clássicos e populares.
Arthur Moreira Lima já gravou nos Estados Unidos, Inglaterra, Rússia, Japão, Suíça, Bulgária e Polônia. No repertório: Bach, Beethoven e Mozart (as sonatas famosas), Chopin (integral da obra para piano e orquestra com a Filarmônica de Sofia, todos os Noturnos, Polonaises, Valsas, Prelúdios e Scherzi) nos Estados Unidos, uma antologia da obra pianística de Villa-Lobos (3 CD's), de Radamés Gnattali e de Tchaikovsky, assim como os grandes concertos para piano e orquestra (Rachmaninov, Tchaikovsky, Mozart) com grandes formações sinfônicas européias: Orquestra da Rádio da Polônia, da Rádio de Moscou e de Câmara de Moscou.




Sua permanente inquietação e a valorização que dá à nossa cultura, fazem de Arthur Moreira Lima o mais popular, versátil e completo dos intérpretes clássicos brasileiros.




Certa madrugada paulistana, alguém confundiu, no balcão de uma padaria da rua da Consolação, Arthur Moreira Lima com um mágico. Ele vinha de um concerto seguido de um jantar prolongadíssimo, e ainda vestia a casaca de músico, daí a confusão.

Isso aconteceu no começo de 1971, numa das primeiras vezes em que Arthur vinha tocar no Brasil. Na época, ele morava em Viena, depois de uma longa temporada de consagração e muito estudo em Moscou. O inusitado da situação fica por conta do acerto involuntário: incapaz de qualquer truque de prestidigitador, Arthur Moreira Lima é, sem a menor dúvida, capaz da mais alta magia em seu ofício. O inusitado da localização: afinal, quantos pianistas eruditos bem sucedidos podem ser encontrados, num fim de noite, num balcão de padaria? Fica por conta de uma das mais marcantes características de Moreira Lima: sua irremediável vocação para a matreirice carioca, seu talento inquebrável para manter muito da irreverência juvenil, sua obstinada proximidade com o dia-a-dia do brasileiro. E esta é, possivelmente, a melhor maneira de descrever Arthur Moreira Lima: o mais brasileiro dos grandes pianistas de formação erudita da nossa história.

O lado travesso de Arthur acabou gerando uma série de situações peculiares, e ninguém além dele é capaz, hoje, de distinguir o que é real do que foi inventado, na onda de seu comportamento inesperado. Quando conheceu o embaixador Vasco Leitão da Cunha,
deu-se um desses diálogos típicos de Arthur Moreira Lima, e que imediatamente foi incorporado ao seu anedotário pessoal.

- Muito prazer, Vasco Leitão da Cunha apresentou-se o diplomata.
- Prazer, Fluminense Moreira Lima rebateu o pianista irreverente.

Para que se entenda essa faceta de Arthur Moreira Lima, é preciso, antes de mais nada, recordar que ele tem, acima de qualquer outra coisa, uma alma carioca, brasileira.

Ao longo dos muitos anos que morou fora do país, na França, na União Soviética, na Áustria e na Espanha, basicamente ele vivia a nostalgia constante dos expatriados. Sabia, a milhares e milhares de quilômetros de distância, as últimas gírias, as novidades do Fluminense, as histórias sempre atualizadas da boêmia carioca, os bastidores da política. Quando vinha ao Brasil, divertia-se com as conversas dos motoristas de táxi, varava madrugadas ouvindo programas de rádio, colecionava provérbios gerados pela incessante imaginação carioca, testava ditos populares inventados da noite para o dia.

A tradicional (e traiçoeira) imagem do músico erudito, um sujeito branquela, que estuda dez horas por dia e cujo interesse varia apenas de uma partitura a outra, aplica-se muito parcialmente a Arthur Moreira Lima. É verdade que ele não é exatamente um morenaço (ao contrário: o primeiro sol que bate já o colore de cor-de-rosa). É verdade que ele estuda com obstinação prussiana. É verdade que ele pode falar horas sobre partituras, autores e intérpretes, com paixão adolescente. Mas é impossível imaginá-lo sem a última piada pronta para ser disparada, ou sem sua perfeita imitação dos clássicos locutores de futebol. É impossível imaginá-lo sem estar pronto para discutir a crise do tricolor das Laranjeiras. É impossível imaginá-lo sem discutir, com fúria e arrebatado espanto, as mazelas do Brasil.

E, claro, é impossível tentar colocá-lo em qualquer pedestal. Não por falta de méritos, desde logo. Mas por absoluta falta de espaço. Arthur Moreira Lima sabe de seu talento e de seu valor, mas abomina a falácia. Com a mesma concentração, o mesmo empenho e o mesmo preparo com que se apresentou no Lincoln Center, de Nova York, apresentou-se na garagem de ônibus da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. Ele é capaz de armar o mesmo repertório, indo de Chopin a Pixinguinha, em qualquer palco do mundo não importa se o público está pagando dezenas de dólares ou assistindo de graça. Tanto vale a gravata do Municipal como o bermudão da Rocinha. Pelo Brasil afora, Moreira Lima preserva suas exigências, seus cuidados: leva em seu próprio caminhão um de seus pianos; leva seu próprio afinador. Pode ser um teatro elegante de Recife, pode ser a quadra da Mangueira. Trata-se, para ele, de respeitar o público sempre com idêntica reverência. O mesmo rigor aplicado em suas gravações feitas em Londres ou Nova York foi dedicado às suas apresentações num teatro um tanto precário de Santiago de Cuba. A frase de Fernando Brant, numa célebre canção escrita com Milton Nascimento "todo artista tem de ir aonde o povo está", pode com toda justiça ser aplicada no dia-a-dia de Arthur Moreira Lima, desde sempre.

Ele já se apresentou com as Filarmônicas de Leningrado, Moscou e Varsóvia, com as Sinfônicas de Viena, Berlim e Praga. Já tocou sob a regência de Jesus Lopez-Cobos, Mariss Jansons, Vladimir Fedosseyev e Sir Charles Groves. Teve sua gravação das obras completas de Chopin considerada pela crítica norte-americana como "o mais importante registro pianístico do ano", e leu o crítico Dominic Gill, do "Financial Times" de Londres, considerado um dos mais rigorosos da Europa, escrever que "Moreira Lima sabe tudo sobre o piano romântico, fazendo seu instrumento falar". Já passou por tudo isso e por muito mais. Guarda, porém, com especial carinho a lembrança da revista suíça que afirmou que ele era "o Pelé do piano".

O registro da carreira de Arthur Moreira Lima volta-e-meia surpreende os críticos e provoca espanto em quase todos eles. Gravou a obra integral de Chopin para piano e orquestra, com a Filarmônica de Sófia: dois concertos e quatro peças separadas. Em Los Angeles, começou o registro da obra completa de Chopin para piano solo, cujas gravações estão em andamento. Com esses registros, conseguiu importantes prêmios internacionais e tornou-se um dos campeões de venda de música erudita no Japão. Aliás, o álbum "Chopin Favourites", gravado para a Nippon Columbia, continua até hoje sendo um dos mais vendidos da gravadora japonesa. Gravou uma antologia de obra de Villa-Lobos para piano, e outra de Radamés Gnattali. Com três grandes orquestras européias: a da Rádio de Moscou, a da Rádio de Varsóvia e a de Câmara de Moscou - Arthur Moreira Lima gravou concertos para piano e orquestra de Mozart, Rachmaninoff e Tchaikovsky. Foi com seus discos reunindo a obra de Ernesto Nazareth, considerado pela crítica brasileira "um autor popular", ou seja, menor, que ele foi incluído na lista das melhores gravações do ano, pela "Stereo Review Magazine", dos Estados Unidos, e tornou-se o maior vendedor de música instrumental no Brasil. Pouco depois, Moreira Lima descobriu que, nas grandes lojas especializadas de Londres, entre os autores clássicos separados em ordem alfabética havia um novo nome na letra N: Nazareth, gravado por ele. Seu disco reunindo as "Valsas de Esquina", de Francisco Mignone, é considerado um clássico. A crítica especializada, na época, soube reconhecer que Moreira Lima deu uma nova dimensão às valsas de Mignone, e o próprio autor afirmou que o que mais havia apreciado na interpretação de Moreira Lima tinha sido sua contribuição pessoal. Ou seja: Francisco Mignone reconheceu, no pianista, o dom do verdadeiro intérprete.

Qual o espanto provocado por Arthur em boa parte da crítica? Justamente sua negativa a aceitar fronteiras rígidas entre o erudito e o popular, entre arte maior e arte menor. Para ele, são diferentes expressões de uma mesma cultura rica, diversificada e em eterna ebulição. Tocar Chopin e Mozart em praça pública, em praia ou numa favela com a mesma dedicação com a qual enfrenta as platéias mais exigentes e sisudas do mundo tocando Nazareth e Pixinguinha é, para Arthur Moreira Lima, uma questão de princípio. Sente-se especialmente gratificado quando constata a emoção de alguém que nunca havia visto um pianista de sua estatura tocar Chopin e isso, certamente, só ocorre quando ele procura o público mais amplo, justamente aquele que normalmente é segregado dos grandes teatros dedicados à erudição. Se o trabalhador não tem como ir ao Municipal ouvir Chopin, Arthur leva Chopin ao trabalhador. Assim de simples, assim de justo.

Misturando Liszt, Nazareth, Chopin, Piazzolla, Bach, Villa-Lobos, Mozart e Pixinguinha, Moreira Lima conquistou o público: conseguiu democratizar a música erudita e valorizar, em sua devida dimensão, a música popular. E tudo isso sem concessões, com rigor extremo.

Por volta de 1978, ele fez uma opção arriscada: decidiu trocar duas décadas de Europa pelo Brasil. Poderia, é claro, ter ficado no exterior. Evitaria todos os entraves que um músico de formação erudita, mesmo com sua dimensão encontra aqui. Só que, conforme contou na época a um amigo que morava em Madri, Moreira Lima cansou de ser estrangeiro. "Eu me sentia realizado como pianista, queria me sentir realizado como brasileiro. Lá fora, as coisas estão feitas, estão prontas. Aqui, não. Eu sentia que no Brasil poderia participar do processo cultural, de maneira ativa. Sabia que num país com uma elite pequena e indefinida como é o Brasil, tentar democratizar as coisas, no meu caso, a música, seria extremamente difícil. Mas sabia também que valia a pena".

Passados esses anos todos, “acredito que estou dando minha contribuição”, diz ele. Com uma média de 90 apresentações por ano, tocando para as platéias mais diversas nos lugares mais inusitados, ele certamente contribui, e muito, nessa tentativa de democratizar o que normalmente é privilégio de pouquíssimos: a música, a arte em seu estágio mais nobre.

Arthur Moreira Lima poderia muito bem ter ficado na torre de cristal. Teria todos os atributos para isso, pelo menos, se for levada em conta apenas sua trajetória como pianista erudito. Aos seis anos de idade ele começou a estudar piano e dois anos depois dava seu primeiro recital, na Associação Brasileira de Imprensa: Beethoven, Chopin e Paderevsky. Aos nove anos fez seu primeiro concerto profissional, no Teatro da Paz, em Belém do Pará. Naquele mesmo ano ganhou, pela primeira vez, o concurso para jovens solistas da Orquestra Sinfônica Brasileira. Foi solista da orquestra e tocou o Concerto em lá maior, de Mozart. Quando tinha onze anos apresentou-se, novamente no mesmo concurso e ganhou de novo, desta vez tocando o Primeiro Concerto de Beethoven.

Durante quatorze anos, ele foi aluno da professora Lúcia Branco. Moreira Lima já era considerado um menino prodígio, e chegou a correr o grave risco de acreditar nisso. Foi salvo por sua alma brasileira, carioca: irreverente, sabendo colocar as coisas em seu devido lugar, sem se levar demasiado a sério, mas, ao mesmo tempo, reconhecendo o tamanho do desafio que tinha pela frente.

Volta-e-meia, ao sair da aula, Moreira Lima encontrava na sala de espera um rapaz mais velho, que esperava a vez. Um dia, a professora Lúcia Branco fez o seguinte comentário: "Esse rapaz que vem depois da sua aula quer ser pianista clássico. Mas ele faz músicas tão lindas, que devia se dedicar ao seu próprio trabalho". O rapaz era Tom Jobim.

Em 1959 foi estudar com a professora Marguerite Long, em Paris, e ficou três anos. Em 1963, ganhou uma bolsa para aquele que era, na época, o mais prestigiado nicho formador de pianistas do mundo: o Conservatório Tchaikovsky, em Moscou. Estudou lá durante cinco anos. E depois, ficou mais três, fazendo pós-graduação e sendo assistente de cátedra do grande mestre Rudolf Kehrer. Nesse meio tempo, obteve o segundo lugar no Sétimo Concurso Chopin, o mais prestigioso do mundo, realizado em Varsóvia, em 1965. Preferido do público, foi ovacionado durante vinte intermináveis minutos. Começava ali sua carreira internacional.

Arthur Moreira Lima foi ainda premiado no Concurso de Leeds, na Inglaterra, e no Concurso Tchaikovsky, em Moscou. O conjunto desses três prêmios é um privilégio que pouquíssimos pianistas do mundo podem citar em suas biografias.

Ele sabe o exato valor de cada uma dessas premiações, da mesma forma que sabe perfeitamente avaliar a importância de ter sido o intérprete na primeira audição mundial do Concerto Número 1, de Heitor Villa-Lobos, no Japão, na Rússia, na Áustria e na Alemanha. Acabou gravando esse concerto com a Orquestra da Rádio de Moscou. Em 1996, apresentou onze álbuns com peças dos principais compositores brasileiros, incluindo um registro histórico: ele tocando sob regência de Radamés Gnattali. Antes, havia resgatado Nazareth, Mignone e feito a primeira gravação de Brazílio Itiberê, o mais importante autor nascido no Paraná e que até 1955 permanecia praticamente inédito e desconhecido.

Em 1997, realizou um sonho que vinha sendo acalentado ao longo de quase vinte anos: gravar, pela primeira vez, obras do mestre argentino Astor Piazzolla especialmente transcritas para o piano. O disco foi gravado em Londres, e permitiu que fossem programadas apresentações no Brasil, na Suíça, na Itália, na França, na Inglaterra e na Alemanha.

Arthur Moreira Lima cumpriu cinqüenta anos de carreira com o entusiasmo de estreante, intacto, intocável.

Quem observar com a devida calma sua trajetória chegará a conclusão de que ele poderá perfeitamente inscrever seu nome entre os maiores da história do piano e dos intérpretes de música erudita do Brasil. Poderia. Mas, de fato, o que ele fez e vem fazendo é inscrever seu nome na história da cultura deste país.

De todas as suas atividades, uma se sobressai, definitiva: empregar seu vasto e singular talento na busca da democratização da música, a mais nobre das artes. Arthur Moreira Lima deixou, há um bom tempo, de ser apenas um dos maiores pianistas da história brasileira. Ele é um dos nomes mais importantes da nossa cultura.


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Nesta sessão você pode ouvir trechos de músicas e de entrevistas onde o pianista fala um pouco sobre a sua vida e seus projetos.