"Quando Sérgio Cabral nos propôs gravar composições de Ernesto Nazareth na interpretação de Arthur Moreira Lima - e sua argumentação apoiava-se no absurdo cultural de ser quase inédito um dos maiores compositores da nossa música - nossas razões, ao aceitarmos sua proposta, foram, em primeiro lugar, de natureza cultural. E, em segundo lugar, no território largo da intuição, o paradoxo nos desafiava e, freqüentemente, o prestígio dos paradoxos é a ausência de contestação.
Decidimos gravar dois discos, juntando-os num álbum. Porque o silêncio em relação à Ernesto Nazareth era antigo e sua obra de extensão e qualidades raras. E as mesmas razões que nos fizeram acreditar em Nazareth, como autor, levaram-nos a acreditar em Arthur Moreira Lima como intérprete. Pianista consagrado nos maiores centros musicais do mundo, seu sucesso como intérprete de autores que a convenção batizou de eruditos não se deve senão à marca brasileira com que o fabricante da sensibilidade humana carimbou o seu talento. E foi assim que a brasilidade rara de Ernesto Nazareth se casou com o brasileirismo particular de Arthur Moreira Lima. E de casamento tão feliz não há notícia nos cartórios da música, no Brasil. É o disco de maior sucesso comercial do nosso seIo, provavelmente a gravação de piano mais vendida no País, em todos os tempos. E seu sucesso artístico não foi menor, Nazareth reviveu, como está revivendo o choro. E para estas duas ressurreições os mais autorizados observadores registram a contribuição fundamental de "Discos Marcus Pereira".
Ao lançar este álbum nº 2, nossas razões são as mesmas. E, outra, ainda. No campo da cultura, como vimos provando, o Brasil apresenta um nível de risco dos mais baixos do mundo. A figura do contrato de risco não existe em transações com a cultura do povo. E quem se obstina em desconhecê-Ia não pode usar mais esse argumento.
Marcus Pereira
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