Villa-Lobos, Uma Antologia
Na extensa obra de Heitor Villa-Lobos, nosso principal compositor e considerado o maior das Américas, o piano tem papel relevante Poder-se-ia mesmo dizer que se Villa-Lobos tivesse composto somente para piano, ainda assim teria uma importância capital no cenário e na história musical do Brasil e do mundo. Impregnadas de sentimento brasileiro, as peças não fogem à linha geral de sua obra, filosoficamente assentada no nacionalismo, baseada em ritmos e melodias do nosso riquíssimo folclore e realizada tecnicamente sob a influência de compositores europeus como Stravinsky, Bartók e Debussy, influência essa que apenas orientou seu talento genial, sem impedir que em momento algum deixassem de vir à tona seu autodidatismo e sua marcante personalidade.
Sendo o piano o mais completo dos instrumentos, não é de se estranhar que Villa-Lobos o tenha utilizado de múltiplas maneiras, recorrendo a seus imensos recursos, em diferentes gêneros. Assim. os diversos aspectos de sua realização musical aparecem muito claramente em suas composições pianísticas, emprestando-lhes um cunho autêntico e variado: Choros, Bachianas, Cirandas, Danças, Valsas, Ciclos, Suítes e o famoso Rudepoema, dedicado ao pianista Arthur Rubinstein, seu grande amigo e propagandista.
Sempre foi meu desejo produzir uma antologia dessa obra, que fugisse, como o próprio compositor, ao convencional, não pela simples escolha das peças, mas sim na maneira de gravar o som do piano. Fiel a suas raízes populares, o piano do Villa é brilhante, marcando os ritmos por vezes como se fosse um instrumento de percussão, indo do mais terno ao mais agressivo, sem nunca perder uma grande presença de som, que lhe é característica. Em conseqüência, a colocação dos microfones, conceitualmente contrariando as normas vigentes, foi feita de tal maneira, que a estereofonia reproduz a sensação de quem está tocando, e não de quem está ouvindo.
Acho que também me trouxe uma inspiração extra o fato de ter gravado no bairro das Laranjeiras, entre a rua Ipiranga, onde nasceu Villa-Lobos, e o campo do Fluminense, onde nasceu o futebol (então “foot-ball”) do Rio de Janeiro.
Arthur Moreira Lima |