CHOPIN - Obra Completa para Piano e Orquestra
Volume III - CD e LP

LP
Lado A
01. Variações sobre “LÁ CI DAREM LA MANO" do
"DON GIOVANNI" de Mozart, op. 2
02. Andante Spianato e Grande Polonaise
Brilhante, op. 22 (início)
Lado B
01. Andante Spianato e Grande Polonaise Brilhante, op. 22 (conclusão)
02. Krakowiak, Grande Rondó de Concerto, op. 14

CD
01. Krakowiak, Grande Rondó de Concerto, op. 14
02. Andante Spianato e Grande Polonaise
Brilhante, op. 22
03. Grande Fantasia sobre Temas
Populares Poloneses, op. 13


Ficha Técnica

Produção na Bulgária
Este feliz reencontro de duas personalidades artísticas afins foi promovido pela Companhia Estatal de Discos da Bulgária BALKANTON, em junho de 1986, na Sala de Concertos Bulgária (Sofia - Bulgária).
Idealização: Aleksandr Yossifov
Produção Geral: Juliana Marinova
Ton Regisseur: Stefan Vladkov
Produtor: Hristo Tantchev
Assistente: Nicola Mirtchev
Engenheiro de Som: Giorgi Harizanov
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
Afinação: Yossif Angelov
Gravação Digital: Sony, editado nos Estúdios BALKANTON, Sofia
Corte: Elio Gomes
Montagem: Ronaldo Monteiro
Produtor Executivo no Brasil: Mauricio Quadrio
Projeto Gráfico: Claudio Carvalho Criação & Comunicação
Foto: Antonio Guerreiro

Orquestra Filarmônica de Sofia
Regente Dimitr Manolov
CBS Records Masterworks


VARIAÇÕES SOBRE UM TEMA DE MOZART

As Variações sobre a ária "Là ci darem Ia mano", da ópera de Mozart, "Don Giovanni", em si bemol maior, op. 2, foram compostas por Chopin em 1827, dedicadas a seu grande amigo Titus Woyciechowski e publicadas em 1830. Esta obra foi não só a que marcou a estréia de Chopin em Viena, como também a primeira editada (por Haslinger, em Viena) fora da Polônia. Provocou o célebre artigo de Schumann, no Neue Zeitschrift fur Musik (Leipzig): "Tiremos o chapéu, meus senhores, um gênio". Realmente, aqui a originalidade e a beleza estão presentes desde a primeira nota. Estas Variações podem também ser executadas sem o acompanhamento orquestral. Apesar de sua grande dificuldade técnica, não conseguimos encontrar explicação plausível para o relativo esquecimento em que caíram.
Na Introdução, as cordas preparam a entrada do piano e sustentam a harmonia do solo inicial. De repente, uma flauta repete, uma oitava acima, as 3 últimas notas do piano; logo depois o fagote e o clarinete tocam o mesmo motivo. Mais adiante, um diálogo entre o fagote e o clarinete anuncia as 4 ou 5 primeiras notas do tema de Mozart, que vai aos poucos emergindo da neblina. Uma linda cadência do piano com estas 5 notas encabeçando arpejos na mão esquerda, enquanto a direita desce em tercinas de notas dobradas (terças e sextas) leva a uma brilhante passagem em arpejo descendente até parar no fá mais grave, depois de percorrer toda a extensão do teclado.
A entrada tão esperada do tema, gracioso e sutil, delicia o ouvinte, não só pelo charme e simplicidade da melodia, como pela genialidade da preparação que a introduz. A Variação I é brilhante, com passagens em tercinas e notas dobradas em semicolcheias. A segunda é original, na escritura em mãos paralelas no acompanhamento das cordas em pizzicato e no inteligente efeito pianístico. Na Variação III, o piano toca só, e a mão esquerda tem um difícil desenho de acompanhamento. Na quarta Variação, sentimos a influência de Paganini. A quinta é um lindo adágio em si bemol menor. Schumann, que imaginava quadros fantásticos para cada variação, com as personagens da ópera, dizia que Don Juan beijava Zerline em ré bemol, no quinto compasso... Na Variação final, a mestria, a imaginação e o bom gosto de Chopin se afirmam, não só na habilidade em transformar o tema de Mozart em polonaise, como no brilhantismo da parte de piano, encerrando a peça de maneira empolgante.
Dia 26 de fevereiro de 1832, Chopin tocou estas Variações no seu debut parisiense. Mendelssohn e Liszt aplaudiram delirantemente. Este último, evocando a ocasião, diria mais tarde que "os aplausos redobrados não bastavam para o nosso encanto diante desse talento revelador de uma nova fase no sentimento poético e de tão felizes inovações na forma da sua arte".

KRAKOWIAK, GRANDE RONDÓ DE CONCERTO

A Krakowiak em fá maior, op. 14, Grande Rondó de Concerto, foi composta em 1828, dedicado à Princesa Czartoryska e editada em 1834. Foi composta para o concerto de estréia de Chopin em Viena, e acabou não sendo tocada, por dificuldade de leitura das partes de orquestra. Só na segunda apresentação, dias mais tarde, ela foi executada, alcançando grande sucesso. Serviu de treinamento, do ponto de vista de composição, para Rondó final do Concerto em mi menor, que é também uma krakowiak.
Originária do sul da Polônia, da região de Cracóvia, a krakowiak não era uma dança de tanto sucesso quanto a polonaise ou o mazurka nos salões de então. Era uma cultura algo marginal na Varsóvia da época, certamente por seu cunho marcadamente camponês e talvez por ser em 2 e não em 3 tempos, como o mazurka e a polonaise. Cantada, instrumental, dançada, a krakowiak é rápida, alegre, sincopada e rústica. Em geral, encerra as festas, que começam por polonaises e mazurkas.
A abertura é um episódio pastoral, em fá maior, o piano traçando a linha melódica com as duas mãos em paralelo a duas oitavas de intervalo, sobre harmonias sustentadas pelas cordas. É simples e extremamente original, assim como a repetição, pela trompa, das 3 ou 2 últimas notas da frase pronunciada pelo piano. Mais adiante há um notável diálogo temático entre os sopros, enquanto o piano realiza arpejos ascendentes e descendentes com as duas mãos e as cordas sustentam os acordes. Passagens leves, no agudo com o piano em oitavas simples, acompanhado pelas cordas em "pizzicato”, antecipam Glinka. No fim nota-se um interessante efeito mozartiano de flautas e fagotes em intervalo de duas oitavas. Trata-se da obra melhor orquestrada por Chopin. Na parte de piano, muitos desenhos e figurações técnicas, em ambas as mãos, apresentam semelhança óbvia com os Estudos do opus 10.
Admirável, sobretudo, é a coragem de Chopin em vaIorizar o folclore nativo. Encontrou resistência, pois os cérebros de então, carentes de toda e qualquer sensibilidade, sentiam estranheza, para não dizer repulsão, diante da introdução de motivos tão do "povo". E naquela época, sem dúvida, o vocábulo "povo" tinha uma conotação exclusivamente pejorativa.
"A Arte", dizia Chopin, "deve ser o espelho da alma nacional. Uma nação que procura arte estrangeira, por ser supostamente melhor, jamais verá a própria alma". E foi precisamente a preocupação com a riqueza cultural de seu país que o tornou um paladino do bem, da verdade e da beleza. Laços muito fortes ligam a estética de Chopin com as concepções estéticas do seu povo. O povo é invencível, porque não tem pessimismo. Sua infelicidade é passageira, sua alegria, poderosa, sua força, incalculável.

Arthur Moreira Lima


No momento em que, dentro de um mundo globalizado, tentamos fortalecer nossa identidade, imprescindível para...

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Nesta sessão você pode ouvir trechos de músicas e de entrevistas onde o pianista fala um pouco sobre a sua vida e seus projetos.