"Este disco é uma colcha de retalhos, como tem sido a minha atividade na MPB. Começando em 1975 com a gravação de um LP duplo de tangos, valsas e polkas de Ernesto Nazareth, essa participação tem aumentado gradativamente.
Morando quase 20 anos no exterior, fui obrigado a afastar-me de muitos dos nossos valores culturais, enquanto solidificava uma carreira internacional de pianista clássico. Voltando a viver no Brasil, as idas e vindas a que a profissão me obriga tornam-se menos árduas temperadas por um show aqui, uma temporada ali, experiências novas para mim, que me têm dado oportunidade de conhecer e trabalhar com muita gente boa e de talento, ampliando minhas possibilidades e atingindo uma faixa de público maior.
Evidentemente, mesmo quando está fazendo música popular, um artista clássico não se desprende totalmente da linguagem que aprendeu e usou a vida inteira. Assim sendo, “Flor Amorosa” tem passagens que podem lembrar a época de Beethoven, “Corta Jaca” começa como se fosse uma invenção de Bach, “Chuva Morna” imita o espírito de Rossini, “Carinhoso”, tem passagens inspiradas em Debussy, Liszt e Bach, “Seresta Sertaneza” vem com alguns acordes alusivos a Villa-Lobos, “O Despertar da Montanha” coteja o pianeiro e o concertista. Não sei se são arranjos, paráfrases, transcrições livres ou fantasias.
As peças de Henrique Alves de Mesquita, Laércio de Freitas, Paulo Moura e Aristides Borges praticamente seguem a partitura original dos autores. Nesta última, porém (“Subindo ao Céu”), cabe um agradecimento especial ao mestre Horondino Silva, o popular Dino das sete cordas, que me passou a “dica” da baixaria.
Para finalizar, devo dizer que este reencontro com a nossa cultura vem preenchendo uma lacuna importante em minha formação, não só de músico, mas sobretudo a de ser humano."
Arthur Moreira Lima
"Este irrequieto e irreverente artista que é Arthur Moreira Lima Jr. Nasceu no Estácio em 1940 e foi criado no tradicional bairro carioca do Catete. Menino prodígio que tocou Mozart em público aos oito anos, estudou piano desde cedo, “com Lúcia Branco, não esquece de botar aí...”. Jogou bola na rua, foi aluno do Colégio Militar, tocava no conjunto de festinhas “Os Filhos da Pauta”, sempre foi tricolor doente.
Em 1960, embarcou para Paris e estudou com Marguerite Long. Em 1963, cruzou a Europa para uma longa estada na União Soviética, trabalhando com Rudolph Kehrer no Conservatório de Moscou. Premiado em seguida no Concurso Chopin de Varsóvia, começou uma vertiginosa carreira internacional. Outros prêmios, casas lotadas, aplausos de pé, turnês européias, discos japoneses. Em 1981 foi finalmente lançado em Nova Iorque como Offspring da escola soviética.
Consagrado pela crítica como o maior intérprete vivo de Chopin, está gravando sua obra completa em vinte 20 digitais para o selo americano Arabesque.
Depois de Paris, Moscou, Viena e Barcelona, Arthur voltou ao nosso faroeste para ficar. Instalou-se em 1979 em um amplo apartamento no centro se São Paulo e, entre uma viagem e outra, abriu os ouvidos para a nossa (dele) música, e enfrentou os preconceitos.
Do nazarethiano ao chorão, do chorão ao improvisador, um caminho absolutamente natural para quem tem tanta sede de expressão. Seus discos de Nazareth foram uma redescoberta, seu “Chorando Baixinho” com Abel Ferreira e Época de Ouro um reencontro, seu espetáculo “Consertão” com Paulo Moura, Heraldo do Monte e Elomar uma grande experiência.
Agora, Arthur pede licença para mostrar os primeiros resultados. Irrequietos, irreverentes e irresistíveis."
Mario de Aratanha
|