As 12 Valsas de Esquina
de Francisco Mignone
Arthur Moreira Lima


LADO A
01. em Dó menor (3:23) soturno e seresteiro
02. em Mi bemol menor (4:15) lento e mavioso
03. em Lá menor (2:21) com entusiasmo
04. em Si bemol menor (2:41) vagaroso e seresteiro
05. em mi menor (3:02) cantando, e com naturalidade
06. em fá sustenido menor (1940) (2:32) tempo de valsa movimentada

LADO B
07. em Sol menor (4:18) moderadamente
08. em Dó sustenido menor (3:03) tempo de valsa caipira
09. em Lá bemol menor (4:40) andantino mosso
10. em Si menor (4:59) lento, romântico e contemplatiovo
11. em Ré menor (3:08) moderaro
12. em Fá menor (4:16) moderado - vivo


Ficha Técnica
Criação e Produção Fonográfica: Kuarup Produções
Produção Executiva e Direção Geral: Mario de Aratanha
Engenheiro de Gravação e Edição: Carlos Fontenelle
Assessoria Acústica: Américo Brito
Produção Musical: João Pedro Borges
Corte do Acetato: Ivan Lisnik
Assistência da Direção: Janine Houard
Assistência da Gravação: Homero Moraes
Assistência da Produção: Heloisa Freire, Paulo Brabosa e Grace Elizabeth
Capa: Kuarup (criação), Verônica Falcão (foto), Daniel Welman (produção gráfica)
Agradecimentos Especiais: Nelle Pâscoli, FUNARJ, Jacques Klein.
Gravado com a acústica natural da Sala Cecília Meireles, Rio de Janeiro, em julho de 1900 e janeiro de 1982. Piano STEINWAY & SONS, Hamburgo

As Valsas nº 1,2,7,8, 10 e 12 foram gravadas originalmente para o disco BRASIL, PIANO - brinde das Empresas CAEMI em 1900.

"As Valsas de Esquina de Francisco Mignone são um resumo da musicalidade brasileira, uma síntese genial do popular e do clássico, tal como a que também podemos encontrar na obra de um Nazareth. O Mignone que escreveu essas valsas, entre 1938 e 1943, tinha pouco mais de 40 anos, já sabia tudo de música, e utiliza aqui o piano como nós usaríamos um caderno de notas ou um diário íntimo, disfarçando a sua ciência musical para fazer o piano cantar como o melhor dos seresteiros.

Mignone sempre soube aproveitar a valsa para fazer boa música: depois dessas Valsas de Esquina, vieram as doze Valsas-Choro, as Valsas Brasileiras - e há muito pouco tempo, as 16 inspiradas valsas para solo de fagote, gravadas por Noel Devos.

Com isto, ele dava continuidade a uma rica tradição brasileira. A valsa chegou ao Brasil nos tempos de D. Pedro I pelas mãos de um compositor austríaco, Sigismund Neukomm, professor do Imperador (que também compôs as suas valsas); e saiu da Corte para os salões, espalhando-se por todas as camadas da população. Tanto se podia ver um Carlos Gomes escrever uma Valsa de Bravura, para concerto, como um anônimo, certamente mineiro, rabiscar a Saudades de Ouro Preto.

Lá pelo fim do século, a valsa já estava completamente abrasileirada, sentindo a influência do choro e puxando, por sua vez, a modinha para o compasso 3/4.

Nas mãos de Nazareth, ela se torna um delicadíssimo retrato da nossa belle époque - música de salão transformada por um artista genial. Nazareth punha um ouvido em Chopin e outro no que estavam fazendo os chorões. E em Nazareth, o Mignone que Manuel Bandeira chamaria "o rei da valsa" encontrou uma de suas primeiras (e constantes) inspirações.

Mignone tinha 16 anos quando foi premiado em concurso de composição com uma valsa: Manon. Mais ou menos nessa época pôde ver Nazareth numa loja de música, onde o grande artista, que ninguém imaginava ser um gênio, lia à primeira vista as músicas para piano em que os fregueses pudessem estar interessados - isto é, fazia o papel que pertence hoje ao toca-discos. Um pouco mais tarde, Mignone seguiria para a Europa, onde a sua veia italiana ia ser reforçada por anos de estudo em Milão.

Mas antes disso ele foi seresteiro - e assim é que começaram a nascer as Valsas de Esquina. "Como flautista - contou a sua primeira mulher - ele ia pelas ruas da capital paulista, altas horas da noite, tocando chorinhos acompanhado pelos violões e cavaquinhos dos demais companheiros. Isso influiu para que ele, mais tarde, compusesse uma série de valsas, denominadas 'de esquina', em que a maneira popular transparece lindamente expressa".

Mignone dá a sua própria versão: o nome dessas valsas, segundo ele, foi dado por Mário de Andrade, pois "lembram aquelas valsas que, à noite, debaixo dos bruxoleantes lampiões a gás das esquinas, os chorões tocavam em suas serenatas às amadas que, atrás das venezianas ou cortinas, ficavam ouvindo. As esquinas serviam de refúgio, caso aparecesse um parente na rua para afugentar os boêmios perturbadores do silêncio noturno"...

Mignone aproveitou, nessas valsas, modelos da época, e até mesmo a sua experiência de músico popular - quando compunha sob o pseudônimo de Chico Bororó. Mas já na primeira valsa, em dó menor, ele mostra que tinha chegado a um estilo novo, que combina a simplicidade do popular com a sofisticação do clássico. O canto começa na mão esquerda - como nos bordões do violão - o que produz um efeito meio sério, meio brincalhão. Mignone libertava-se da sua fase internacionalista, de todas as paisagens estrangeiras, e voltava a ser um poeta perambulando pelas esquinas.

A valsa nº 10, nas mãos de Arthur Moreira Lima, é a própria alma da modinha, dos luares de prata das noites brasileiras. No seu cristalino fio de música, ela traduz uma suavidade infinita; fala por milhares de seresteiros, por milhões de noites de luar.

O piano de Mignone, interpretado por Arthur, parece não ter martelos: tudo é muito cantado, nessa música de um grande compositor que não tem vergonha de ser sentimental, de deixar falar o coração. Mas o Francisco Mignone que se tornou o músico mais completo do Brasil protege o sentimento com o véu da ciência musical. É esta ciência que ensina Mignone a não se repetir, a não usar lugares-comuns.

As doze Valsas de Esquina, compostas nos doze tons menores, são ao mesmo tempo simples e misteriosas. A melodia é simples; mas a harmonia é a mais sutil. A mão esquerda sobressai muito, lembrando sempre os bordões violonísticos que tiram a música dos caminhos batidos, que podem intensificar a melancolia. Mas logo em seguida, Mignone usa as notas mais agudas como um fio de pérolas, como gotas de orvalho recém-caídas das estrelas.

Este é um disco feliz, onde o intérprete e a música chegaram a um casamento perfeito."

Luiz Paulo Horta


No momento em que, dentro de um mundo globalizado, tentamos fortalecer nossa identidade, imprescindível para...

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Nesta sessão você pode ouvir trechos de músicas e de entrevistas onde o pianista fala um pouco sobre a sua vida e seus projetos.