Arthur Moreira Lima - LP Duplo
Rachmaninov - Concerto N° 3
Tchaikovsky - Concerto N° 1


RACHMANINOV
Concerto N° 3, Ré menor, Opus 30
01. 1° Movimento (18:01) Allegro ma non tanto
02. 2° Movimento (11:06) Adagio
03. 3° Movimento (15:06) Finale
Gravação realizada por técnicos norte-americanos, em Katowice (Polônia) entre 2 e 5 de julho de 1984, pelo processo original Sony - Digital
Produtor: Thomas Frost
Engenheiro de Som: Thomas Lazarus

TCHAIKOVSKY
Concerto N° 1, Si bemol menor, Opus 23
01. 1° Movimento (19:35) Andante non troppo e molto maestoso Allegro con spirito
02. 2° Movimento (6:45) Andantino Semplice
03. 3° Movimento (6:50) Allegro con fuoco
Gravado ao vivo na Sala das Colunas da Casa dos Sindicatos em Moscou - URSS (Março/1971)
Produtor: Alexei Golovin
Gravação: Equipe da Rádio de Moscou


Ficha Técnica

Produção no Brasil
Produtores: Lauro Henrique Alves Pinto
Nina Rosa Silva Aguiar
Texto: Enio Squeff
Prensagem: Polygram do Brasil
Capas: Concepção e Arte - AVP&P
Foto: Yuri Palhmin
A capa reproduz as cúpulas da Igreja da Transfiguração (construída em 1714) e a Torre do Sino (erguida em 1874), em Kizhi, República Soviética Socialista da Karélia. Estas edificações são de madeira encavilhada, inexistindo pregos, parafusos e peças metálicas de sustentação.


Conta Arthur Moreira Lima que em uma de suas excursões pelo interior da URSS, ouviu uma observação significativa a propósito do Concerto em si bemol menor, opus 23, de Tchaikovsky. Ensaiava a obra com a orquestra de uma pequena cidade, - quando o regente, irritado, gritou para os trompetistas que se eles não executassem as quatro notas da abertura exatamente como deveriam, provavelmente até os bilheteiros iriam notar a falha.
A frase é de efeito, mas reveladora. Escrito 1885 e estreado no mesmo ano em Boston, com Hans Von Buelow, o concerto, no começo, não despertou grande interesse. Sabe-se que foi dedicado, primitivamente, a Nicolas Rubinstein, amigo do compositor, que não poupou críticas à sua estrutura. Seria "pesado demais". E se forem levados em conta os reparos, que ainda hoje lhe fazem alguns pianistas, de conter oitavas e notas duplas, muito além do que exigiriam certos efeitos, as críticas procederiam de fato. Foram elas, aliás, que levaram Tchaikovsky a mudar a dedicatória para Hans Von Buelow e, logo mais, a reformular parte do concerto. Passados mais de cem anos, porém, poucas obras românticas conseguem manter tanto impacto ou popularidade no mundo quanto o concerto que Nicolas Rubinstein rejeitou. É fácil concluir que não são apenas os bilheteiros soviéticos que sabem de cor a famosa introdução do concerto em si bemol de Tchaikovsky.
É a ironia sempre lembrada na história desta obra. Mas é, também, a trajetória quase obrigatória das obras "fadadas" ao sucesso. Este, talvez, seja o aspecto mais notável do concerto número um. Uma análise simples de sua estrutura demonstra que o compositor pensou alto quando o compôs. A originalidade começa pela introdução. Escrita em si bemol menor, este tom só se vai revelar nos quatro primeiros compassos, passando para o relativo maior, ré bemol maior. Dentro da escrita forma sonata, porém, o início do primeiro tema do primeiro movimento só irá acontecer a partir do "Allegro con spirito", no 110º compasso. Parece evidente que, se Tchaikovsky se deixasse levar pelas críticas, muito provavelmente a grandiosa introdução sofreria mudanças substantivas. Ocioso insistir em que Tchaikovsky sabia o que queria; e que sabia como fazê-lo.
Tinha consciência disso. Numa carta que escreveu em 1877 a Madame Nádezhda Von Meck, sua protetora (viúva de um famoso empresário russo) dizia Tchaikovsky sobre o "Grupo dos Cinco" (Korsakov, Balaklrev, Mussorgsky, Cui e Boro- din), ser impossível considerá-los sob o prisma profissional. A solitária exceção, afirmava o compositor, seria Rimsky-Korsakov. Os outros - Cesar Cui, Balakirev, Borodin e Mussorgsky - "embora se considerassem com horrível presunção, superiores aos outros músicos do universo" (sic), seriam evidentemente "amadores".
À primeira vista o juízo de Tchaikovsky intriga. Há o pressuposto (e o preconceito) de que fosse contra a eslavofilia dos músicos de São Petersburgo (Leningrado). Isto aconteceu em parte: por formação, o moscovita Piotr Ilyitch Tchaikovsky parece não ter compartilhado muito do nacionalismo algo exacerbado de seus colegas reunidos em torno de Balakirev, em São Petersburgo. Mas por não ser confessionalmente nacionalista, nem por isso deixou Tchaikovsky de adotar procedimentos e temas tipicamente folclóricos em suas composições. O segundo movimento do concerto para piano, sob este aspecto, é exemplar. A melodia em 6/8 iniciada pela primeira flauta, após a introdução, com as cordas em "pizzicato", pode não ser diretamente uma menção ao folclore. Há quem considere a “valsinha" central do "Andantino" uma peça francesa da época. Mas há, em ambas, um tratamento indiscutivelmente russo. Tchaikovsky nunca deixa de sê-lo. Assim também em relação ao último movimento ("Allegro con fuoco"), cuja melodia - esta sim - teria sido extraída de uma canção ucraniana. A conclusão é meridiana: poucos dos "Cinco" (com exceção de Mussorgsky que, por sinal, Tchaikovsky considerava, com justiça, o mais "genial" do grupo) obteriam o mesmo, com sua incontestável postura ideológica.
Este é outro dos "fatos" aludidos a propósito do talento de Tchaikovsky. Por exemplo, a repetição do primeiro tema, a partir do compasso 43 do “Andantino", por dois violoncelos, acompanhados por acordes em semicolcheias ao piano, é muito criativa; embora possa parecer desnecessária.
São aspectos que conferem, não apenas a este concerto, os méritos que o público (à parte os bilheteiros soviéticos) lhe concede, como também à toda a obra do compositor, com uma admiração constante e naquilo que ela possui de melhor (e não portanto, por cegueira do ouvinte comum). Nesta perspectiva, Tchaikovsky é um caso à parte. Mas não é uma exceção na história da música russa. Quando se fala no fim do século passado, há que se considerar também Rimsky-Korsakov.
Com Tchaikovsky, Rimsky-Korsakov representa a maioridade da música russa. Foi um dos maiores orquestradores da história da música em todos os tempos. Mas foi, também, o nome decisivo para o que se convencionou denominar "Escola Russa de Composição". Claro, Tchaikovsky não lhe ficou atrás; mas enquanto em Tchaikovsky a musicalidade se escora numa sensibilidade que por vezes raia ao exagero, em Rimsky-Korsakov a maestria, não raro, substitui a falta de originalidade. É com os dois compositores, de qualquer modo, que a cultura e a música russas definem grande parte de sua peculiaridade durante o período. De um lado há a inspiração e o trabalho árduo, pregado por Korsakov; de outro, há o intercâmbio e já não apenas entre os compositores. Sabe-se que, ao comentar a Rússia que conheceu quando jovem, Stravinsky não só menciona Tchaikovsky; coloca-o (contra a opinião de parte da crítica), nos píncaros da glória, para se estender ao que eram os tempos de seu país na época, não faltam, por exemplo, menções a Dostoievsky. Rimsky-Korsakov, a seu turno, professor, dentre outros, de Stravinsky, não alude a Dostoievsky em sua autobiografia. Mas se refere ao poeta Pushkin que, por sua vez, inspirou Tchaikovsky. A plena ebulição da cultura russa é inegável; e é sob o influxo eslavo que nascerão os "nacionalismos" artísticos em várias partes do mundo. Uma coisa de qualquer maneira é certa: a admiração de Tchaikovsky por Korsakov e deste por Tchaikovsky, a qual se estende aos literatos e dos escritores pelos músicos e dos músicos para com os pintores (parece ocioso lembrar que "Quadros de Uma Exposição", de Mussorgsky, foi escrito a partir da mostra de um arquiteto amigo do compositor), dizem mais que tudo, tanto sobre a maioridade da música russa, quanto sobre a notória influência de todo o processo cultural na expressão dos compositores do período. ...

Enio Squeff


No momento em que, dentro de um mundo globalizado, tentamos fortalecer nossa identidade, imprescindível para...

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Nesta sessão você pode ouvir trechos de músicas e de entrevistas onde o pianista fala um pouco sobre a sua vida e seus projetos.