BRAHMS & DEBUSSY

Lado: A (23:08)
Johannes Brahms (1833-1897)
6 Klavierstücke, opus 118
01. N° 1 lntermezzo, lá menor
(Allegro non assai, ma molto appassionato)
02. N° 2 Intermezzo, lá maior
(Andante teneramente)
03. N° 3 Ballade, sol menor (Allegro energico)
04. N° 4 Intermezzo, fá menor
(Allegreto un poco agitato)
05. N° 5 Romance, fá maior (Andante)
06. N° 6 Intermezzo, mi bemol menor
(Andante, largo e mesto)

Lado: B (17:16)
Claude Debussy (1862-1918)
6 Préludes (1° Livro)
01. N° 1 Danseuses de Delphes (Lent et grave)
02. N° 2 Voiles (Modéré)
03. N° 5 Les collines d'Anacapri (Très modéré)
04. N° 7 Ce qu'a vu le vent d'Ouest
(Animé et tumultueux)
05. N° 8 La Fille aux cheveux de lin
(Très animé et doucement expressif)
06. N° 12 Minstrels (Modéré)


Ficha Técnica
Produção (abril/85): Lauro Henrique Alves Pinto e Nina Rosa Silva Aguiar
Texto: Zito Baptista Filho
Foto: Cassio Horta
Capas: AVP&P (concepção/arte)
Prensagem: Polygram do Brasil

Gravação ao vivo realizada a 3 de dezembro de 1972 na Grande Sala do Conservatório Tchaikovsky, pela equipe da Rádio de Moscou.
Ruídos incidentalmente ouvidos na gravação, são ambientais.


Cerca de dez anos separam a criação destes dois programas pianísticos. Com Brahms estamos no fim do século 19 e com Debussy na primeira década do século atual. Tanto ou mais do que diferem esses séculos entre si, diferem o alemão Johannes e Claude de France. O Brahms das Klavierstücke (literalmente, "Peças para piano", que formam o opus 118), bem como o das peças que constituem os opp. 116, 117 e 119, num total de trinta breves composições, é o autor que nos oferece sentimentos e meditações de avançada maturidade. Do interior desse severo construtor de obras magnas, como as sinfonias e os concertos, para não falar no Réquiem Alemão, vem à tona o adolescente pianista hamburguês que ele foi. O mais romântico dos compositores alemães costumava dizer que com uma terra fértil como a cultura musical germânica, bastava saber ará-Ia para conseguir proveitosos frutos.
O requinte é a feição dominante nestas miniaturas para piano onde Beethoven, Schubert e Schumann são as mais fortes presenças, todas porém sob o denominador comum do especial lirismo brahmsiano, lirismo que se expressa por um sentimento de amor e ternura que primou sempre por uma contenção e um recato que não eram as marcas típicas do romantismo. E quem tem o privilégio de se identificar, ainda que fugazmente, com tais expressões, poderá sentir que elas não são nem um pouco menos intensas do que as que mais possam parecer.
Do ponto de vista estritamente musical, vale observar que Brahms, especialmente atento à herança dos mestres clássicos, foi, no panorama artístico de seu tempo, um conservador senão mesmo um reacionário. No entanto, hoje convive mais freqüentemente conosco do que seus antagonistas ditos então músicos "do futuro". Isso define a real modernidade de Brahms; essa modernidade que vamos encontrar plena, livre, nestas obras onde falou principalmente de si próprio e para si próprio. Podemos dizer que nas obras orquestrais, tendo Beethoven como guia e farol, Brahms falou ao grande público, nas obras de câmara conversou com os amigos e permitiu-se grandiosos monólogos no pianismo de despedida.
O primeiro Intermezzo deste opus 118 – arrebatado, poderoso – é um Allegro non assai, ma molto appassionato, que Claude Rostand define como "uma espécie de microcosmo de allegro de forma sonata". O segundo Intermezzo do grupo, em lá maior, está assinalado Andante teneramente e nele se espalha uma tristonha ternura, como se resultante de um olhar suave e envolvente. Allegro energico – assim é a Balada em sol menor. O caráter heróico desta peça é atenuado pela sua seção central à maneira de um dueto. O Intermezzo em fá menor é um Allegretto un poco agitato onde se distingue uma estrutura em cânon. O Romance em fá maior, Andante, ainda segundo Rostand, transcorre em tom de idílio pastoral. E o último Intermezzo, fecho também desta coletânea de 1893, composta no verão na estação balneária de Ischl, no interior da Áustria, é um Andante, largo e mesto, quer dizer, amplo e triste, refletindo um sentimento cálido, de profunda delicadeza.

Arthur Moreira Lima

Se em todos os compositores se exige do intérprete a propriedade do estilo, o toque da atmosfera própria e característica, a exigência ainda mais se acentua em Debussy, todo ele estilo e atmosfera próprios e inconfundíveis, moderno, atual, contemporâneo, personalíssimo e sem seguidores. A música tem sido acusada de se manifestar um tanto tardiamente em relação às demais artes, num descompasso quanto à estética vigente em outras esferas. Coube a Debussy, criando musicalmente no efervescente começo do século vinte na França – contemporâneo da escola impressionista da pintura – realizar a coincidência impressionista literária, visual e auditiva. Não é discursiva nem narrativa a sua arte. É música feita de sensações, de impressões que se sucedem, de estados de espírito despertados por sons, cores, luz, movimento.
Se no jogo orquestral destacam-se o poema sinfônico La Mer – maravilhoso tríptico descritivo ou os Noturnos, outro tríptico não menos expressivo, na obra para piano, talvez mais definidora de seu estilo, Claude Debussy atinge com os Prelúdios a plenitude de sua criação. Série de 24 pequenas obras-primas, seis deles são interpretados, neste disco, por Arthur Moreira Lima. Permitimo-nos apresentar sobre cada um desses seis prelúdios os comentários estéticos e poéticos de um outro poeta do piano, Alfred Cortot (1877-1962), e também de James Friskin (1886-1967), pianista, compositor e professor.
Danseuses de Delphes - Graves e silenciosas, evolucionam (as dançarinas de Delphos) ao ritmo lento das harpas, dos sistros e das flautas. E na sombra misteriosa do templo, onde se arrastam os pesados vapores dos perfumes consagrados, repousa, invisível e presente, o deus meditativo que sonha os destinos..." (Cortot). J. Friskin: "Um firme ritmo fluente e bom equilíbrio de linhas sonoras simultâneas são as óbvias exigências."
Voiles - "Barcos em repouso, no Iuminoso porto. Suas velas se tocam docemente e a brisa as infla, impulsiona ao horizonte onde cai o sol, a fuga de uma asa branca sobre o mar acariciante..." (Cortot). J. Friskin: "De novo se requer um cuidadoso equilíbrio sonoro, com suave legato para toda a série de duplas terças."
Les collines d'Anacapri - “Movimento na luz; visão ensolarada das colinas de Nápoles; um vivo ritmo de tarantella se enlaça à indolência de um refrão popular, a nostalgia deliciosa e banal de uma cantilena amorosa mescla-se intensamente às vibrações de um céu demasiado azul, sugerido pela animação incansável e aguda de uma flauta rápida." (Cortot). J. Friskin: "Peça brilhante, em grande parte em ritmo de tarantella, empregando também material de canção folclórica – mais difícil do que a maioria dos prelúdios."
Ce qu'a vu le vent d'Ouest - "Através dos lívidos resplendores da alvorada, ou no espanto das noites, trata-se da terrífica visão do furacão, onde, em meio ao tumulto do mar desencadeado, passam gritos de agonia que se chocam contra as ondas." (Cortot). J. Friskin: "O mais exigente, tecnicamente, dos doze prelúdios da série. São requisitos poderosos acordes e oitavas quebradas e controle de rápidas passagens em tremolo executadas pelas mãos alternadamente."
La Fille aux cheveux de lin - "Terna paráfrase da canção escocesa de Leconte de Lisle que fala do encanto e da doçura da namorada distante "sur Ia luzerne en fleur assise..." Escrevendo presumivelmente na década de 50, Alfred Cortot disse ainda, a propósito: "Uma venda recente de autógrafos nos fez conhecer o manuscrito de uma melodia inédita que traz o mesmo título. O manuscrito não está datado, porém a dedicatória a Mme. Vasnier permite situá-lo entre as primeiras produções de Debussy. O texto musical – sem qualquer parentesco com o do Prelúdio – não nos pareceu de rara qualidade. Não obstante, Debussy não deixou de atribuir real importância a esta composição juvenil, havendo como testemunho esta frase, que serve de dedicatória: "Tout ce que je peux avoir de bon dans le cerveau est la-dedans: voyez et jugez." (Aí está o melhor que pude ter no cérebro; veja-o e julgue." (Cortot). J. Friskin: "São requisitos fraseado flexível e suave legato,"
Minstrels - "Evocação humorística e genial da atmosfera de music-hall. Palhaços ingleses se entregam fleugmaticamente em cena a evoluções trepidantes, enquanto uma. lufada de música sensual sugere o encanto fáci do lugar do prazer." (Cortot).

Zito Baptista Filho





No momento em que, dentro de um mundo globalizado, tentamos fortalecer nossa identidade, imprescindível para...

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Nesta sessão você pode ouvir trechos de músicas e de entrevistas onde o pianista fala um pouco sobre a sua vida e seus projetos.