Radamés Gnattali

Lado A
Oito estudos em ritmo de choro
01. Alma Brasileira (4:13)
02. Noturno* (3:57)
03. Capoeirando (1:20)
04. Duas Contas**+ (3:29)
05. Encontro com a Saudade**++ (2:57)
06. Guriatan de Coqueiro (4:41)
* Participação especial de Joel Nascimento (bandolim) ** Participação especial de Zeca Assumpção (contrabaixo) + Sobre um tema de Garoto ++ Sobre um tema de Billy Blanco e Nilo Queiroz

Lado B
Oito estudos - conclusão
07. Por quê? (3:20)
08. Nova Ilusão+ (3:17)
09. Uma "Rosa" para o Pixinguinha (Valsa)* 3:44
Brasiliana Nº 8, para dois pianos**
10. 1º movimento – Schottisch (3:14)
11. 2º movimento – Valsa (4:01)
12. 3º movimento – Choro (3:53)

* Participação especial de Joel Nascimento (bandolim) ** 2º piano gravado também por Arthur Moreira Lima, sobre o playback do 1º + Sobre um tema de José Menezes e Luiz Bittencourt


Ficha Técnica
Arthur Moreira Lima gentilmente cedido
por Discos CBS
Dedicatória: A Maria José de Souza Coelho, minha mulher, que tanto me ajudou a realizar este trabalho.
Idealização e Direção Artística:
Arthur Moreira Lima
Produtor Fonográfico:
A.M.L. Produções Artísticas Ltda.
Produção Musical: João Pedro Borges
Engenheiro de Gravação:
Carlos Eduardo de Andrade (Carlão)
Técnicos de Gravação: Mario Roberto Doria Possollo (Leco) e Luiz Felipe (Mequinho)
Afinação, Regulagem e Afinação dos Pianos:
Olivio Valarini
Edição Musical: Carlos Eduardo de Andrade (Carlão) e João Pedro Borges
Supervisão do Projeto: Lúcio Ricardo Marques da Silva (Varig)
Direção Geral e Produção Executiva:
Arthur Moreira Lima
Consultoria Administrativa do Projeto:
Renato Oswaldo Kamp
Coordenação da Produção: Manuel Luis da Silva

Concepção Gráfica:
Claudio Carvalho Criação & Comunicação
Direção de Arte: Tuninho de Paula
Ilustração da Capa: Arthur Braga
Retrato de RADAMÉS GNATTALI: Candido Portinari
Foto de ARTHUR MORElRA LIMA: Isabel Garcia
Gravado em digital, em janeiro de 1989
Master Studios - Rio de Janeiro
Pianos: Steinway & Sons, Hamburg
Corte: Elio Gomes (CBS)
Agradecimentos: Ermelinda Couto, Fernanda Tarrisse da Fontoura, Henrique Cazes, João Candido Portinari, Laercio de Freitas, Nelly Gnattali, Sergio Lima Netto, Simone Buli, Valdinha Barbosa
Artistas Convidados:
Joel Nascimento (bandolim)
Zeca Assumpção (contrabaixo)


Radamés Gnatalli ocupa um lugar único na música. De sólida formação erudita, incorporou a música popular, que tanto amava, filtrando-a em linguagem refinada e pessoal. As várias décadas que passou trabalhando na Rádio Nacional, deram-lhe uma capacidade, experiência e rapidez de trabalho comparáveis às de um Mozart brasileiro. Nasceu dia 27 de janeiro de 1906, exatamente 150 anos depois de Mozart (27.01.1756). Coincidência ou não, seu estilo econômico de escrever, tirando de um mínimo de notas um máximo de rendimento, mostra a mesma filosofia artística, o mesmo enfoque musical e o mesmo bom gosto estético daquele que foi o maior compositor do período clássico.
Radamés tem três facetas, onde é absolutamente genial: o pianista, o arranjador e o compositor. Virtuose que dominava o piano com a maior perfeição, não é de se estranhar que esse instrumento, o mais completo de todos, tenha se tornado o centro da criação artística do músico.
Até o presente momento, nenhum trabalho fonográfico organizado foi feito sobre esse compositor de tão grande importância. A proposta que vínhamos desenvolvendo, torna-se agora mais do que necessária, pois virá preencher uma lacuna em nosso universo cultural, privado recentemente da presença do nosso querido Radamés.
Gaúcha como Radamés, e com seu nome ligado a um já lendário pioneirismo, a VARIG se sensibilizou com este projeto, o que aliás é perfeitamente natural, pois, tal como Radamés, foi também de Porto Alegre que ela levantou vôo, para levar ao mundo um pouco do nosso Brasil.

Arthur Moreira Lima

Brasil talvez seja o único país do mundo em que "eclético" pode ser um termo de comiseração, como em "ele é muito eclético, o coitado". Dando a entender que o artista precisa fazer de tudo para sobreviver, que se tratassem melhor a cultura neste país seus artistas se livrariam da danação de serem versáteis. Não é uma posição errada, na medida em que o país está mesmo cheio de vocações mutiladas, de meio-maestros e concertistas de churrascaria, todos vítimas da falta de perspectiva. Aqui, quem não quer ser eclético demais, emigra. Mas é uma posição que também revela um certo preconceito. O eclético, coitado, seria o cara obrigado a se diminuir, dispersando o seu talento. A versatilidade seria a marca da concessão, da rendição ao mercado, do abandono da seriedade. Mesmo os que não são ecléticos por necessidade, mas por gosto, sofrem com este tipo de preconceito. Uma produção musical muito abrangente - segundo o preconceito - só é feita com o sacrifício do rigor que separa o verdadeiro artista do menos verdadeiro. Incrivelmente, o academicismo brasileiro ainda não decidiu se Villa-Lobos, por ter experimentado tanto com formas populares, foi um grande compositor ou apenas um bom gigolô do exótico. Nunca se ouviu discussão parecida sobre o que Bela Bartók fez com o folclore da terra dele. Até o Arthur Moreira Lima é discutido. Haveria algo de errado, de não muito respeitável, com tanta abertura para tantas formas de prazer musical. No Brasil, depois de dizer "eclético" você precisa acrescentar: "no bom sentido". Para ficar claro que é elogio.
Não está claro, na biografia de Radamés Gnattali (me vali da escrita por Valdinha Barbosa e Anne Marie Devos, publicada pela Funarte) se ele foi um eclético no bom ou no mau sentido. Ou seja, se seria fatalmente um concertista de piano e um compositor convencionalmente erudito se vivesse num país menos, digamos, brasileiro, ou se mesmo com todas as condições para ser um músico "respeitável" por toda a vida ele teria acabado na música popular. Porque é preciso lembrar que no Brasil existem outras coisas além da necessidade e da falta de incentivo para afastar o músico do sério. Não é preciso cair no ufanismo bobo para concordar que aqui existe uma musicalidade, uma propensão natural, que poucos outros países têm, e que o músico que se fecha para todas as possibilidades musicais que vem do simples fato de nascer brasileiro, só para não ferir o preconceito academicista, estará cometendo, no mínimo, o crime do desperdício. De Radamés Gnattali, como de Villa-Lobos, de Arthur Moreira Lima, de Tom Jobim e de tantos outros, pode-se dizer que ele aproveitou ao máximo a vantagem de nascer brasileiro, de ter todo esse instrumental, que vai da caixinha de fósforo à sinfônica, e toda essa variedade de ritmos e sentimentos para escolher. A gente aqui nasce condenado a muita angústia e chateação, mas também nasce condômino deste imenso universo sonoro chamado alma brasileira, por falta de um nome mais específico. Que não é de se jogar fora.
Também foi importante, se me perdoam o bairrismo, que Radamés Gnattali tenha nascido, além de brasileiro, gaúcho. Por alguma razão, quando o jazz recém estava subindo o Mississipi e se espalhando pelo resto dos Estados Unidos, também estava chegando a Porto Alegre. Chegou a Chicago e a Porto Alegre quase ao mesmo tempo. Radamés Gnattali talvez não tivesse contribuído tudo o que contribuiu como compositor, arranjador e regente para a moderna música popular brasileira se não fosse esse seu contato precoce com o jazz nas noites de Porto Alegre. Sangue italiano, instrução rigorosa de conservatório mas cabeça em Nova Orleans, alma brasileira - a combinação só podia dar no que deu.
Seria exagero dizer que Arthur Moreira Lima está resgatando Radamés Gnattali. Ele sempre foi bem considerado pela crítica, admirado pelo público e quase reverenciado pelos seus contemporâneos músicos, e não está esquecido. Mas nunca é demais quando alguém volta a mostrar como a musicalidade brasileira desdenha qualquer distinção entre erudito e popular. Ainda mais quando este alguém é Arthur Moreira Lima. Aqui está o fantástico encontro de dois ecléticos, no melhor sentido da palavra.

Luis Fernando Verissimo




No momento em que, dentro de um mundo globalizado, tentamos fortalecer nossa identidade, imprescindível para...

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Nesta sessão você pode ouvir trechos de músicas e de entrevistas onde o pianista fala um pouco sobre a sua vida e seus projetos.