21.11.10 - Concerto de Arthur Moreira Lima reúne 2 mil pessoas no campus da UFSM

O único som a se ouvir da platéia no espetáculo de sexta-feira (19) à noite, no largo do Planetário, foi praticamente o barulho do aplauso. Durante uma hora e meia, o público de cerca de 2 mil pessoas (estimativa da organização) ficou emudecido, como que enfeitiçado ao som do piano de Arthur Moreira Lima. O silêncio só era interrompido depois que o pianista tocava em seu Steinway & Sons as últimas notas de cada obra do repertório, ocasião em que era intensamente ovacionado pelo público.
Reconhecido em todo o mundo e considerado um dos maiores pianistas do Brasil, esta foi a primeira vez que Arthur Moreira Lima se apresentou em Santa Maria. O concerto integra o seu projeto musical e social Um Piano pela Estrada, que busca levar a música erudita para além das principais capitais brasileiras, incluindo em seu roteiro os mais longínquos rincões do país. O público assiste gratuitamente aos concertos, os quais já chegaram a quase todos os estados brasileiros, com exceção apenas de Amazonas, Amapá e Roraima.
Esse objetivo tem sido atingido desde 2003, quando o projeto começou, graças ao "caminhão-teatro", um palco itinerante que é montado e desmontado em cada cidade na qual o pianista se apresenta. Junto deste caminhão, viaja um comboio que conduz o próprio artista e uma equipe de apoio que pode chegar a até 23 pessoas, composta por motoristas, montadores, afinador de piano, técnicos de som, luz e telão, entre outros profissionais.
Não é à toa que a 5ª e atual edição do projeto leve o nome de "Nos Caminhos dos Tropeiros", em homenagem aos desbravadores que, antes da invenção do automóvel, abasteciam a economia do Brasil carregando os mais diversos produtos sobre o lombo de cavalos e mulas.
Em Santa Maria, o caminhão-teatro veio acompanhado de uma equipe de 16 "tropeiros", os quais encarregaram de montar uma estrutura de aproximadamente quatro toneladas. Essa carga inclui os três pianos que Moreira Lima tem levado consigo - são dois pianos de cauda e um piano armário, usado somente para ensaios.
E não é somente a música erudita que tem espaço nos concertos do pianista. Neles os gigantes do gênero (Bach, Beethoven, Chopin) convivem pacificamente com grandes nomes da música popular e folclórica brasileira, como Pixinguinha e Luiz Gonzaga. Esta mistura foi saudada pelo reitor Felipe Müller, em uma breve manifestação antes do início do espetáculo, o 355° realizado dentro de Um Piano pela Estrada. "Isso é uma forma de a universidade agradecer à comunidade que nos recebe, que nos acolhe e que tão prontamente atende a todas as iniciativas da UFSM. E sempre digo: música boa não tem selo - seja erudita, popular, clássica ou rock and roll", afirma o reitor. Logo que o seu nome foi anunciado pelo cerimonial, Arthur Moreira Lima sentou-se ao piano para tocar "Jesus Alegria dos Homens", de Bach. Ao final desta primeira peça, o virtuose carioca pega pela primeira vez o microfone, apenas para anunciar a próxima música, a polonaise "Heróica", de Chopin. Além de se deleitar com o som proporcionado pelo dedilhar ao mesmo tempo vigoroso e delicado do pianista, o público podia testemunhar - por meio de um telão instalado em cima do palco - os movimentos complexos e precisos de seus de dedos e a expressão crispada de concentração do seu rosto, com sua boca constantemente ameaçando balbuciar a melodia, como que marcando o ritmo. Antes de executar os três movimentos da "Sonata ao Luar", de Beethoven, o pianista contou ao público um pouco da história da composição. Este tipo de intervenção se repetiu ao longo do espetáculo, com Moreira Lima tecendo comentários sobre as obras dos brasileiros Heitor Villa-Lobos (do qual ele tocou "O Trenzinho do Caipira" e "Polichinelo") e Ernesto Nazareth (com a interpretação dos tangos brasileiros "Odeon" e "Apanhei-te, Cavaquinho"). Em obras que não foram compostas originalmente para o piano, Moreira Lima imprimia um arranjo pessoal, executando-as como fantasias. Este foi o caso, por exemplo, do tango "Adiós Nonino", o maior clássico do argentino Astor Piazzolla. Em meio a tantos gigantes da música, os maiores elogios durante o show foram para um compositor gaúcho, Radamés Gnatalli. Segundo Moreira Lima, o compositor porto-alegrense é "tão grande e tão importante quanto Villa-Lobos; acontece que ele era uma pessoa extremamente modesta, que não era dada a marketing pessoal. Não é reconhecido como deveria ser e nós, que gostamos dele, nos esforçamos para que ele o seja". De Gnatalli, o pianista tocou "Duas Contas" e "Encontro com a Saudade". A elas se seguiram interpretações de dois dos maiores clássicos do cancioneiro brasileiro: "Asa Branca", de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, e "Carinhoso", de Pixinguinha. Ao final do show, sem que ninguém tivesse combinado antes, todo o público ficou em pé, quando o pianista anunciou a execução de uma fantasia sobre o Hino Nacional Brasileiro, em homenagem à UFSM, que Moreira Lima declarou ser uma "universidade tão formidável e tão famosa no Brasil inteiro". O show foi a atividade de encerramento do 5° Festival de Música Popular e Folclórica, realizado dentro da programação que comemora os 50 anos da UFSM. O concerto teve patrocínio da Caixa Econômica Federal, Correios e Gerdau, através da Lei Rouanet, a lei federal de incentivo à cultura.


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